sábado, 24 de março de 2012

FEIJÓ: índios doentes ficam às margens das ruas e do rio com fome e frio

A gravidade da doença dos índios foi confirmada na quinta-feira pelo médico do Instituto Evandro Chagas, que esteve na aldeia Boca do Grota com mais dois técnicos.

A Agência ContilNet, acompanhou o sofrimento dos pacientes, famintos, com frio e doentes/Fotos: Wania Pinheiro
Feijó - Pelo menos nove indígenas que chegaram ao município de Feijó no início da noite de quinta-feira,22, foram flagrados em situação de abandono e descaso ao receberem alta médica e serem levados para o Pólo da base administrativa, ficando com febre, frio, fome e ao relento já que o local estava fechado, o carro havia sido retirado da cidade e o chefe do Pólo, Mário Kaxinawá não compareceu para oferecer assistência aos pacientes.


O movimento indígena, que esteve no local através do presidente da Federação do Povo Huni Kui, questionou a ausência dos responsáveis pelos indíos. Mário Kaxinawá, chefe do Pólo, foi procurado pela Agência ContilNet, mas não foi encontrado.


Indígenas doentes de tuberculose
Indígenas doentes de tuberculose
Camas improvisadas no chão de uma casa que seria para dar apoio aos índios
Camas improvisadas no chão de uma casa que seria para dar apoio aos índios
Índio com febre alta improvisou cama no chão
Índio com febre alta improvisou cama no chão
Mulher com o filho de dois meses; criança estava com febre alta e tossindo muito
Mulher com o filho de dois meses; criança estava com febre alta e tossindo muito
Casal indígena a espera de atendimento médico para o filho
Casal indígena a espera de atendimento médico para o filho
As informações são de que ele apareceu na tarde de sexta-feira, e na manhã deste sábado,24, tentou mandar os indígenas de volta para as aldeias mesmo com vários deles com o estado de saúde comprometido.


Além da aldeia Boca do Grota, mais de 40 índios da aldeia Formoso, também no rio Envira, apresentaram os sintomas de febre e diarréia nesta sexta-feira. Alguns que conseguiram chegar na cidade, ficaram às margens do rio sem ter a quem recorrer.


A relatora do Movimento Indígena Unificado (MIU), Aldenira Cunha, está no local e chegou a  receber telefonemas anônimos com ameaças já na manhã deste sábado,24.


A indigenista procurou a delegacia de Feijó, mas o delegado não está no local.


O chefe do Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI), do Juruá, José Francisco Armando, também não apresentou solução para o problema.


Entre os nove indígenas desabrigados na noite de quinta-feira, quatro eram crianças que viajaram seis horas de barco da aldeia Boca do Grota e apresentavam febre alta, diarréia, vômito e total despojo de alimentos e agasalhos.


Mulheres com crianças doentes e com frio
Mulheres com crianças doentes e com frio
Índios retornam ao hospital de Feijó
Índios retornam ao hospital de Feijó
Questionado pela decisão de dar alta para os pacientes, o médico de plantão Rosvaldo Firmo de Aguiar, Dr. Baba, disse que os casos mais graves, no caso sete indígenas, ficaram internados, mas os demais poderiam serem medicados em seu domicílio.


No entanto, os indígenas, que deveriam encontrar no Pólo base alojamento e atendimento ficaram vagando pelas ruas de Feijó, doentes, com fome e frio, sendo levados horas mais tarde para o local por um motorista que conseguiu a chave do Pólo. No local, haviam dois pacientes com tuberculose aguardando por tratamento há mais de um mês.


Na casa onde funciona o Pólo, a situação comprova a precariedade do sistema de saúde pública oferecido aos povos da floresta no Acre, com agravantes ainda maiores no interior do estado.


'Farmácia trancada no cadeado; índios doentes não têm como tomar remédio no turno da noite
'Farmácia trancada no cadeado; índios doentes não têm como tomar remédio no turno da noite
Equipe médica do Instituto Evandro Chagas esteve em Feijó
Equipe médica do Instituto Evandro Chagas esteve em Feijó
Rosvaldo Firmo de Aguiar cumpria plantão no hospital de Feijó
Rosaldo Firmo de Aguiar cumpria plantão no hospital de Feijó
Não havia camas, redes, alimento ou qualquer estrutura básica de atendimento aos indígenas. A farmácia existente no local também estava fechada. Um Kaxinawá, que tinha R$ 5,00 no bolso, saiu com febre, pelas ruas, debaixo de chuva e conseguiu um marmitex para os adultos e crianças atenuarem a fome. No local, a Agência ContilNet, acompanhou o sofrimento dos pacientes, famintos, com frio e doentes. 


“É uma situação de desespero. Um verdadeiro absurdo. É por isso que morrem índios constantemente no Acre. A realidade é que nosso povo está sendo dizimado”, disse Aldenira Cunha. 


A gravidade da doença dos índios foi confirmada na quinta-feira pelo médico do Instituto Evandro Chagas, que esteve na aldeia Boca do Grota com mais dois técnicos.


No local também estiveram médicos da Secretaria Municipal de Feijó, que resgataram várias vítimas para o hospital do município. 


Índio doente é carregado pelo presidente da Fephac, Ninawá Huni Kui, em Feijó/Fotos: Wania Pinheiro
fonte:contilnet